2 de mai. de 2004

Ignorância Econômica ou Servidão Hipnótica


Dia desses conversando com um amigo sobre a questão econômica do Brasil ele se mostrava revoltado com o fato do País produzir trigo internamente para exportar, ao mesmo tempo em que consumia o trigo importado da Argentina. Tive que explicar a ele que o trigo produzido na Argentina é mais barato que o produzido no Brasil e caso o governo fizesse o que ele queria, isto é, proibir a exportação do trigo brasileiro obrigando-o a ficar aqui no território para alimentar seu povo, o preço do pão subiria imediatamente penalizando os consumidores mais pobres, justamente aqueles que ele tinha intenção de beneficiar.

Não pensem que meu amigo é analfabeto, ele é universitário e pasmem, acadêmico de economia. Mas ele foi além e relatou uma experiência própria a qual espraguejava contra o poderio imperialista das empresas transnacionais, pois ele mesmo como membro do DCE da universidade testemunhava o imperialismo dessas empresas quando foram negociar refrigerantes para vender na cantina do DCE e os vendedores da Coca-Cola só forneceriam se o bar tivesse a exclusividade Coca-Cola. O caso é o seguinte: A Coca-Cola não permite que seus vendedores que optam por vender Coca comercializem juntamente o Guaraná Antártica, por exemplo. Meu colega dizia: são uns imperialista que nos sugam e cortam nossa liberdade. Nos fazem de marionetes de seu poderio. Ora, essa afirmação é demente. A Coca-Cola não obriga a nada e quem negocia com ela é livre para escolher o que quiser. Se o sujeito preferir não vender Coca para vender guaraná, que assim o faça. Mas a argumentação do meu colega foi ainda mais ridícula quando ele disse que a Coca era imperialista porque o que a turma do DCE queria mesmo era vender a Coca e também o guaraná, pois ora, sempre tem gente que gosta de guaraná. Sua cegueira ideológica não o permite ver que sua opção por vender Coca-Cola foi voluntária, ele simplesmente preferiu abrir mão do guaraná para vender a Coca, pois para ele era mais lucrativo. Ninguém o obrigou a nada. A escolha por comercializar Coca-Cola e não guaraná foi um ato livre e voluntário de sua parte.

O que aconteceu com meu colega socialista, apesar de sentar nas cadeiras de um curso de economia, é que não aprendeu (ou fingiu não ter aprendido) aquele ensinamento elementar dos “custos de oportunidade” que pelo fato dos recursos serem escassos é impossível fazermos tudo o que desejamos sem ter que abrir mão de alguma coisa. Por exemplo, o custo de oportunidade para mim fazer uma viagem para a África é que terei que abrir mão de comprar um carro novo, ou vice-versa. Se eu comprar um carro novo, o custo de oportunidade será uma viagem à África. É impossível alcançar os dois desejos simultaneamente. Em seu modus operandi de raciocinar, apesar de já grandinho, ele não leva em conta a realidade, mas aquilo que ele idealiza como expressão dela. Assim, age como uma criança mimada que chora por não conseguir alcançar a totalidade de seus desejos.

Ele nem se da por conta (ou novamente finge) de que, para ele, vender a “maldita” Coca-Cola é muito mais lucrativo e logo mais benéfico, do que vender guaraná. Com os bolsos cheios de dinheiro ele chora e arrota: imperialistas vocês estão nos matando!

A preocupação é a seguinte: se essa é a mentalidade de nossa classe universitária que amanhã ou depois serão os nossos líderes empresariais e políticos, refletir sobre o futuro do Brasil deixou de ser um ato de auto-sacrifício para virar um exercício do mais obtuso auto-sadismo.