26 de ago. de 2004

A ESCOLA AUSTRÍACA DE ECONOMIA EM DEBATE

Dia 16 de setembro a UNIJUÍ-RS será palco de um inédito evento que se realizará no auditório da FIDENE, onde a comunidade acadêmica e demais, poderão conferir a palestra “A Escola Austríaca de Economia e as Perspectivas para a Economia Brasileira” com o palestrante Alfredo Marcolin Peringer, mestre em economia pela universidade de Michigan EUA e atualmente economista da FEDERASUL.

Graças ao louvável apoio do grupo PET e dos professores do departamento de Economia da UNIJUÍ, teremos a oportunidade de ouvirmos Alfredo Peringer dissertar sobre a teoria econômica da Escola Austríaca, escola que embora de grande importância para a ciência econômica, permanece criminosamente excluída nas ementas curriculares das faculdades de economia do país. Por isso o ineditismo da iniciativa dos estudantes de economia em trazer esse debate para nossa universidade.

A Escola Austríaca de Economia nasceu em fins do século XIX com o trabalho do economista Karl Menger, quando contribuiu decisivamente para a teoria do valor, mas ela só foi tomar efetiva forma de escola do pensamento econômico com os trabalhos de Ludwig von Mises, até hoje considerado o grande gênio da Escola Austríaca.

Seu primeiro trabalho publicado foi sua tese de doutoramento em 1912, quando dissertou sobre a moeda e posteriormente viria a escrever um tratado sobre a impossibilidade econômica do socialismo onde apresentou uma refutação cabal às idéias do planejamento econômico centralizado, numa época aliás em que o socialismo estava sendo implantado em vários países do mundo e com todo o apoio de grandes intelectuais da época; circunstância que fez Mises se tornar marginalizado nos meios acadêmicos e até perseguido pelo regime nazista quando morava em Viena, na Áustria. Mas seu derradeiro livro foi e é Ação Humana – Um Tratado de Economia (1949), onde o economista apresentou uma obra integrando toda sua genialidade e originalidade no estudo da ciência econômica.

Essa originalidade de Mises que passou à toda geração dos teóricos da Escola Austríaca, foi o grande postulado da praxeologia. Isto é, ele percebeu que a economia é uma ciência da ação humana (e não de agregados econômicos), e ainda flertou que a economia é a parte mais elaborada dela.

A investigação epistemológica de Mises levou o eminente filósofo e professor Olavo de Carvalho a afirmar que von Mises é o mais filósofo de todos os economistas, o que denota um valor importante para o cientista. Pois as investigações científicas sejam elas quais forem, devem seguir a critérios éticos e princípios que remontam aquilo que na Grécia antiga se convencionou chamar de amante da sabedoria, ou filósofo. Termo absolutamente desvirtuado de seu sentido original em nossos tempos. Pois, hoje, para cúmulo, um canudo representa muito mais do que efetivamente faz e é o sujeito denominado filósofo, pois desde fins do século XIX ele passou a representar um cargo funcional e não o que designa o termo clássico, o amante da sabedoria. Sem sombra de dúvidas, Mises era um filósofo no sentido clássico do termo.

A ciência da ação humana legou a ciência econômica um importante instrumento para se analisar e compreender os fenômenos de ordem econômica. O que ela demonstra, em última instância, é que a economia lida com a ação humana e reconhece que o homem age e age sempre com o propósito de sair de uma situação menos satisfatória para outra situação mais satisfatória, de acordo com sua escolha, livre, voluntária e subjetiva, isto é, dos valores individuais de cada pessoa. Assim, conclui-se, que o sistema econômico empregará de melhor forma os recursos escassos se eles estiverem sendo empregados de acordo com as preferências dos consumidores que se materializam no mercado e não pelos ditames governamentais. Por isso, o maior bem-estar social só pode ser atingido se o sistema econômico estiver livre da coerção estatal, ou, em outras palavras, que os indivíduos na posse de suas liberdades de escolha e de ação, não sejam coagidos pelo aparato de compulsão e coerção.

No Brasil, lamentavelmente, a obra dos economistas liberais da Escola Austríaca é ainda obscura entre os economistas e a comunidade acadêmica de modo geral, e não se credita essa obscuridade, única e exclusivamente, a conclusões teóricas que estes sujeitos chegaram, mas fundamentalmente é de ordem ideológica, o que é profundamente lamentável, pois quem sai perdendo são os economistas que adquirem uma formação estreita da ciência que estudaram e, por conseqüência, a sociedade como um todo. Pois as medidas econômicas adotadas pelos governos refletem diretamente na vida das pessoas, e se erradas forem, toda sua gravidade recaí sobre a população.

No Brasil, o Instituto Liberal, com todas as suas limitações e restrições, têm feito um trabalho de Hércules ao traduzir e publicar algumas das obras de Eugen von Böhm-Bawerk, Ludwig von Mises, Friedrich A. von Hayek e de toda tradição da Escola Austríaca de Economia. Levando em conta essa considerações, o Instituto conseguiu -- mesmo que de forma desproporcional ao que se publica de literatura keynesiana e marxista no Brasil --, arejar um pouco o ar que se respira nos meios acadêmicos com a publicação de importantes obras relacionadas com a teoria econômica “austríaca”.

Diante desse quadro, a tradição austríaca do pensamento econômico precisa ser divulgada e debatida no meio acadêmico brasileiro, e a UNIJUÍ já pode se considerar uma das pioneiras no Brasil, pois fora alguns raros centros de excelência, a Escola Austríaca segue relegada ao opróbrio e a ignorância nos assuntos econômicos pode condenar uma nação à miséria. É dentro desse contexto que o evento organizado pelo departamento de Economia da UNIJUI e os colegas do grupo PET vem proporcionar o bom debate. Com certeza, será uma oportunidade ímpar para conhecermos ou ampliarmos nossos conhecimentos na ciência que nos propomos a estudar, pois dela deriva as principais medidas adotadas pelos governos para solucionar os problemas da pobreza, da desigualdade e da falta de prosperidade que grassa nosso país.



Evento: A Escola Austríaca de Economia e as Perspectivas para a Economia Brasileira
Palestrante: Alfredo Marcolin Peringer
Onde? Na UNIJUÍ, Ijuí, RS, auditório da FIDENE
Quando? 16 de Setembro de 2004
Horas? 19:30

A Entrada é Franca!


8 de ago. de 2004

Digressão sobre a volta às aulas

Esta semana começou as aulas. A Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ) estava agitada. Início de semestre sempre trás renovado o espírito dos estudantes. Enquanto alguns nem tão empolgados, outros ficam eufóricos com a oportunidade de rever os colegas, amigos e professores que só é possível o encontro graças a universidade. Para muitos ela é um meio de interação sem igual valor. Particularmente para mim é, pois lá me encontro com colegas, os quais posso conversar sobre a ciência econômica e o perigo de ser governado pelo governo Lula. Assuntos que tomam bom tempo de meus pensamentos.

Além disso, na universidade a gente vê muitas pessoas esquisitas, em que parece que estão imersas em complexos e misteriosos raciocínios. Nada a ver com ocultismo, mas aquela inquietude teórica ou científica que remoe o pensamento a tal ponto que a angustia interior transpassa ao mundo exterior. Uma vontade maluca de resolver o problema. A busca pela revelação. A revelação que trás a libertação intelectual.

A libertação intelectual derivada de algum problema é um avanço muito importante para o estudante. As vezes miraculoso. Além de trazer um alívio psicológico prazeroso, a nova descoberta projeta o sujeito a uma nova unidade de saber, trás um conceito claro daquilo que antes era ambíguo ou mesmo obscuro. É o ápice do objetivo elencado anteriormente.
O problema é quando essa libertação é falsa. Sim, existe isso. Nem toda libertação é verdadeira. Ocorre que durante a busca, a pesquisa, nos enveredamos por caminhos falsos, meios que nos conduzem a um fim, mas que em verdade esse fim revelado é espúrio. Não obstante isso, a sensação de libertação é a mesma. Por isso a busca pelo conhecimento exige o exercício dialético de quem investiga. Exercício dialético no sentido aristotélico do termo, evidentemente. É um fundamental instrumento para se alcançar a verdade, a despeito das pedras do caminho.

Enfim, de volta às aulas.