16 de nov. de 2003

A crise de 1929: uma nota

Dizia Joseph Goebbel, eficiente publicitário de Hitler, que uma mentira repedita mil vezes acaba por se tornar uma verdade inconteste. Na ciência econômica essa é praticamente a regra discursiva dos letrados no assunto. Muitas mentiras em nome de determinadas políticas econômicas são denunciadas em nome de outras. Um exemplo clássico é a crise de 1929 que teria sido a crise do capitalismo ou do laissez faire, baseado nas idéias dos economistas liberais clássicos. Uma mentira tão insustentável quanto um castelo de cartas.

A idéia de que o capitalismo seria autogerador de crises ficou popularmente conhecida com a teoria marxista da superprodução. Reza a teoria que o anseio por lucro imanente ao sistema capitalista levaria a uma superprodução de mercadorias que não teria correspondente demanda, o que os keynesianos viriam a chamar de "demanda efetiva". A teoria de Marx é conhecida. O sistema capitalista divide a sociedade em duas classes, os capitalistas (a burguesia) e os proletariados (os explorados), onde a classe capitalista ficaria cada vez mais rica e opulenta as custas da classe proletária, cada vez mais pobre. Por isso a teoria da superprodução: os trabalhadores não teriam meios suficientes para adquirir toda a produção econômica. É daí que Marx visualiza a revolução das massas afim de tomar o poder do Estado e implantar a ditadura do proletariado coletivizando os meios de produção, em outras palavras, o socialismo. Essa foi a crítica a economia política que Marx fez aos economistas liberais clássicos como Adam Smith, David Ricardo e Jean Batist Say que por conseqüência propôs um sistema altenativo, o socialismo. Não cabe aqui falar sobre o fracasso do socialismo, já tratado em outra oportunidade.

Em verdade, naquela época o mundo científico estava sob forte influência das teses marxistas e por isso perpetuou-se a interpretação da crise de 1929 de acordo com os pressupostos descritos em O Capital. Até hoje a literatura convencional de economia aborda o tema nesta perspectiva. Decorre que esta análise é extremamente falsa e são poucos (quase nem um) economistas que percebe como de fato a crise ocorreu.

Em 29 de Outubro de 1929 a queda da bolsa de Nova Iorque foi o estopim da grande recessão econômica que iniciaria. A atribuição é de que foi justamente a grande produção causada pelas políticas liberais reinantes na época que causaram o colapso das bolsas. De fato ocorreu uma grande produção. A decada de 20 foi uma década de prosperidade econômica singular. O grande erro dos economistas em diagnosticar a crise não foi em observar o fenômeno - a superprodução - mas as causas que levaram a essa superprodução.

O senso comum da interpretação da crise de 1929 reza que o capitalismo teria causado essa crise. Daí as críticas incessantes ao capitalismo e aos economistas liberais do século XX. O problema, entretanto, é que se observarmos a política monetária do FED (o Banco Central dos EUA), nota-se que ao longo da década de 20 ele emitiu moeda em quantidades cada vez maiores que a produção do país, o PIB, aliada a quedas artificiais na taxa de juros, também sob o jugo das autoridades monetárias.

O FED ao emitir moeda em demasia logo inflacionou a economia. Surgiu um período de boom econômico, onde foi puxado pelo aumento do investimento da indústria pesada (de bens de capital) que ao receber esse dinheiro a custos artificialmente baixo investiu nas unidades produtivas. A política artificial do governo em estabelecer a taxa de juros abaixo da taxa natural de mercado, fez com que não ocorresse aumento correspondente aos investimentos na taxa de poupança e a renda gerada no setor de bens de capital se transformou em demanda dos produtos de consumo que ainda não tinham sido produzidos. Como apontou Ubiratan Iorio, trata-se da segunda etapa na cronologia de um ciclo econômico gerado por queda artificial da taxa de juros. Essa demanda por bens de consumo ainda não produzidos, gerou por parte dos produtores desses bens uma demanda por empréstimos a fim de financiar o aumento da produção. Essa corrida por créditos acabou por gerar um cabo de guerra por empréstimos, que por sua vez, tendeu a aumentar a taxa de juros. Foi daí o estouro na bolsa de valores. Foi exatamente isso que ocorreu na grande crise de 1929 e que demagogicamente é ensinado como se fosse uma crise causada pelas "forças adversas do mercado".

Com o aumento dos juros a etapa recessiva é inevitável. O aumento dos juros invibiabiliza os investimentos que foram artificialmente estimulados pela expansão artificial do crédito. Simplesmente através deles é avisado aos investidores que seus investimetnos passados foram mal previstos e portanto, insustentáveis. Começa a quebradeira, e o desemprego é associado a inflação decorrente das políticas estatais expancionistas.

Certamente se deixasse ao mercado, como nos aureos tempos do século XIX, a crise de 1929 não teria ocorrido, ao menos nas proporções que aconteceu. Esse é um dos capítulos da história econômica muito explorado pelas elites demagogas que cultivam o anti-liberalismo a qualquer custo, nem que para isso seja necessário o maior engodo e a maior mentira para sustentar suas idéias. A ciência econômica precisa de gente séria. A crise de moral que se estabeleceu em nossa sociedade é de difícil superação, quadros da elite formadora de opinião estão intoxicados de marxismo enrustido e de um keynesianismo intervencionista, além de um tremendo e insensato repúdio ao liberalismo econômico, a verdadeira fonte da prosperidade.