28 de fev. de 2003

O Livro de Meira Penna

Alicerçado numa sólida base bibliográfia praticamente obscura no Brasil e na genialidade que lhe é peculiar, o Embaixador José Osvaldo de Meira Penna transcende e refuta tudo aquilo que o ambiente acadêmico e em especial as faculdades de Economia deste país estão a décadas ensinando e incutindo na cabeça dos estudantes. "Opção Preferencial pela Riqueza" editado pelo Instituto Liberal é mais que uma obra monumental, ela é reveladora. A erudição de Meira Penna combinada com as mais intensas investigações sobre o tema da pobreza e da riqueza é o que caracteriza este livro não só como magistral, mas sobretudo como iluminador.

Não cabe aqui fazer uma análise detalhada da obra, mas gostaria de, ao menos, estender aos leitores apenas alguns pontos um tanto irradiante sobre as condições dos trabalhadores na época da Revolução Industrial, tema em que a hipocrisia e a demagogia histórica imperam tanto nos livros quando em sala de aula e daí deriva para a totalidade do meio acadêmico, político, e até "científico".

Meira Penna elucida os fatos histórico-econômicos amparado nas investigações de Hayek e Jouvenel, de que a revolução industrial, por exemplo, representou um salto qualitativo no padrão de vida dos trabalhadores ingleses. O que estamos habituados a ouvir, entretanto, é que "a industrialização representou um massacre para os proletariados, que ao saírem das 'idílicas' condições de vida que o campesinato proporcionava, passaram a sofrer os horrores do capitalismo" ou que foi, então, "uma desumana forma de vida embarcada na fome e miséria ao lado de um diabólico parque industrial que ora nascia". Não há hipocrisia que se iguale.

Obviamente, que no século XVIII, XIX, as condições da urbanização nascente na Inglaterra eram muito precárias, contudo, salienta o autor, se comparadas com o nível de vida com que os camponeses viviam nas áreas rurais antes do advento da industrialização, a vida nas cidades eram muito superiores. Fato consumado que fez gerar a imensa massa de emigrantes que por livre e espontânea vontade emigravam da fatigada vida rural para as cidades que então que floresciam e os proporcionava oportunidades, trabalho e sustento.

Ele muito bem nos lembra que as indignações sobre as condições de vida dos proletariados não tinham natureza nas queixas dos novos emergentes que se instalavam nos centros urbanos, mas sim, entre os intelectuais, políticos e burocratas de Londres...

Enfim, outra importante questão que nos é apresentada comumente são as condições de vida "idílicas" que supõe (ou impõe) os intelectuais, historidores e professores, de ter existido antes do advendo industrial. Essa presunção é denotada por Marx e Engels desde o Manifesto Comunista de 1848. Nas palavras de Engels em seu livro sobre as classes trabalhadoras na Inglaterra afirma ele que: "a vida pacífica e justa dos caponeses em sua piedade e probidade só ganhavam aquilo de que precisavam, trabalhando o que desejavam, eram fortes, saudáveis (...) seus filhos cresciam em condições ideais, com ar puro, e podiam ajudar seus pais no trabalho (...) eram gente respeitável que tinha uma vida moral sem tentações para a imoralidade. Seus filhos eram educados com idílica simplicidade e(...) em obediência e temor a Deus". Uma hiprocrisia romântica que chega ser grudenta, que como afirma Meira Penna, remonta as divagações de Rousseau, Thoreau, Whitman e o nosso Darcy Ribeiro.

Na realidade, entretanto, é o que aponta o autor fazendo referência à obra The Industrial Revolution and Economic Growth de R. H. Hartwell, que diz que em verdade, "levas de camponeses da agricultura, que empregava menos mão-de-obra, transferiram-se para as grandes cidades onde a industrialização rápida requeria mais trabalhadores. As condições nas cidades, por mais horríveis que fossem, eram melhores do que as do campo: na cidade havia trabalho e não havia fome e sempre algum divertimento. A urbanização acelerada naturalmente causou tremendos desequilíbrios, mas a crença no empobrecimento surgiu da consciência da burguesia urbana que não possuía idéia alguma das condições reais em que vivia o capesinato".

Esses pontos são apresentados no capítulo dois da obra, cujo relato sobre a origem da pobreza e da riqueza desde os tempos da Inglaterra do século XVIII até o Brasil de fins da década de 80, são observados pelo autor. Se trata de uma aula magna. Eu fico me perguntado: quando eu teria a oportunidade de saber a verdade econômica da sociedade sobre o período industrial na Inglaterra do séc. XVIII, XIX? Se na minha universidade o assunto é abordado mais especificamente na matéria "História do Capitalismo" que tem como referência um livro de Paul Singer? Ou então, ainda me restaria uma última "alternativa", qual seja, a cadeira de Economia Marxista onde durante um ano estudamos o evangelho de Karl Marx! Ao menos o professor foi prudente e não obrigou a leitura do Manifesto.

Voltando ao livro, por fim, nele Meira Penna enfatiza que o único caminho para a geração de riqueza é aquele traçado num ambiente seguro; de garantia da propriedade privada, da plenitude das instituições democráticas marcados pela virtude do trabalho, da poupaça, da honestidade e da liberdade econômica. Como genialmente mostra J. O. de Meira Pena a luz da evidência histórica, este é, portanto, o cenário fértil para o progresso de qualquer nação. Enfim, uma obra magistral a qual recomendo entusiasticamente a TODOS!

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