24 de jan. de 2006

Anarco-Capitalismo: uma anotação bibliográfica

Tenho conversado com diversos amigos liberais no sentido do liberalismo clássico a lá Hobbes, Smith e Hayek, e quase todos condenam a ética libertária ou anarco-capitalista. Uma das alegações mais comuns trata-se de que uma sociedade sem Estado, baseada apenas no princípio da propriedade privada, como defendida pelos libertários a lá Rothbard e Hoppe, não tem como se auto-regular e que, serviços como o de jurisdição, defesa, segurança, ruas e estradas, só podem ser satisfatoriamente produzidos através do aparato estatal. Portanto, o Estado Mínimo, alegam os liberais clássicos, é necessário para o melhor funcionamento da ordem econômica e social.
Pois bem, me parece que estas pessoas não dedicaram o tempo suficiente para estudar o tema, se é que dedicaram algum, pois a idéia de que o Estado Mínimo é necessário já foi amplamente demolida tanto por Rothbard quanto por Hoppe, um dos pensadores mais lúcidos, em atividade.
É uma pena que o Brasil esteja tão distante, assim como está da Escola Austríaca, da perspectiva teórica libertária, pois não há praticamente nada publicado por aqui, salvo o bom e velho site O Indivíduo, especialmente os artigos de Marcello Tostes. É neste espírito de fornecer ajuda aos interessandos que deixo abaixo o link para uma série de recomendações obrigatórias para quem queira estudar o tema. No fim do texto, há diversos papers on line que ajudarão muito.

10 comentários:

Eduardo Levy disse...

Meu amigo Lucas: eu não tenho grande conhecimento da teoria libertária, portanto você pode me acusar, com toda justiça, de tratar um tema sem conhecê-lo. Mas creio que não é necessário o conhecimento para dizer duas coisas: 1º A teoria do Estado mínimo foi "demolida", pelo menos é o que conta o seu último texto no Mídia Sem Máscara e o Bernardo, com o argumento de que o Estado Mínimo "acabou" porque a tendência é sempre para o crescimento e sempre será. Corretíssimo. Mas, os exemplos que o Rothbard costuma usar de sociedades anarquistas também não acabaram? O Estado inexistente não tendeu sempre para a existência do estado?

2º O anarcocapitalismo é de uma fineza lógica incrível. Mas o mundo não é lógico. Quando se tenta endireitar um pau torto, ele quebra antes de ficar direito. O último pensador que tentou viver e filosofar baseado exclusivamente na lógica foi o Russell. O resultado foi ele ter morrido um herói da esquerda mundial depois de ter clamado por nada mais, nada menos que uma guerra atômica preventiva contra a URSS.

Um abraço

Garcia Rothbard disse...

Quanto ao Brasil, o Alceu Garcia disse uma vez que ele mirava no libartarianismo para tentar acertar no liberalismo clássico.

Ainda não superamos o mercantilismo, na verdade, e já queremos substituir o mercantilismo pelo socialismo... Somos o país menos austriaco do mundo.

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Unknown disse...

Meu caro Lucas,

Li alguns de seus textos e também alguns que você indicou em "O Indivíduo" e confesso que fiquei impressionado com a lógica libertária. Eu, pelo menos, não tive estofo para contestar a logicidade do conjunto do pensamento e sua consistência.

Em favor dos Clássicos, posso, em "desespero de causa", fazer coro com o Eduardo e recorrer a Burke ou Kirk na fé na supremacia da "sabedoria da espécie" sobre as dos índividuos, ou seja, na sansão de um conceito por sua antiguidade e longevidade. Civilizações geram Estados e eles são uma constante ao longo da História. Nenhuma (ainda) atingiu um estado "anárquico" e sobreviveu, ao que eu saiba, para nos dizer como é. Portanto, deve haver algo de essencial na existência de Estados e governos. A prática libertária só me parece possível mediante alguma evolução histórica que ainda precisará ser empreendida.

Fico com o Garcia de que o melhor por hora seja mirar no libertarianismo para acertar no Estado mínimo. Só que isso precisa ser feito o tempo todo.

Um abraço,

Anônimo disse...

Rothbard não demoliu nada, pq a obtusidade de seu pensamento não permite. de tudo que já li dele, não salvo um parágrafo.

o maior de todos os problemas com estes ultraliberais é que se preocupam com a criação de um modelo perfeitamente lógico, mas se esquecem de um fator fundamental quando se trata de propor modelos políticos e economômicos: a história; ou como chama o prof. Douglass North - "path dependency".

frost disse...

Só uma coisa: Hobbes não era um liberal clássico. Ele era, isso sim, um defensor do estado despótico absoluto, que seria o único capaz de aplacar a guerra total do estado de natureza.

Lucas Mendes disse...

Prezado amigo,
O Liberalismo Clássico aqui entendido "a lá" Hobbes, trata-se da noção do Estado (Estado Mínimo) estabelecida por Hobbes em seu Leviatan.
Abraço!

Igor Taam disse...

Bem, acho que meu sítio engrossa o caldo dos anarquistas, não exatamente ao modo dos austríacos, mas de vez em quando reclamo pela causa libertária e fim do Estado.

Lucas Mendes disse...

Edu,
Existiram poucas sociedades "anárquicas" na antiguidade. Um exemplo bem ilustrativo foi o caso da antiga Irlanda, que o Rothbard cita no capítulo 23 do seu livro "The Ethics Of Liberty", que viveu milhares de anos sem nenhuma espécie de entidade estatal, mas que fatalmente acabou sendo expoliada pela conquista de Cromwell. Rothbard não fala o porquê que Cromwell teve sucesso, nem eu sei também, mas não creio que isso seja um argumento pertinente para prefir uma organização social cujo Estado já esteja pré-estabelecida dado sua "inevitabilidade". Esse é o ponto, aliás, que Rothbard e sobretudo Hoppe procura demonstrar em seus escritos.
Fraterno Abraço!
Lucas