Relativismo Moral e Violência
por Ubiratan Jorge Iorio em 22 de junho de 2004
Resumo: O relativismo moral contaminou toda a sociedade, suas instituições, seus sistemas político, econômico, cultural e jurídico, todo o organismo, enfim.
Houve tempo em que as crianças e jovens ouviam os conselhos dos mais velhos com respeito, em que as famílias, bem constituídas, eram o centro da vida de cada um, em que casais eram formados por um homem e uma mulher, em que os programas e as revistas em quadrinhos infantis, mostrando claramente as diferenças entre o bem e o mal, procuravam demonstrar que o segundo não pode prevalecer sobre o primeiro, em que alunos que não estudavam eram reprovados nas escolas, em que estas ensinavam basicamente Português, Aritmética, Geografia, História e Ciências, em que se cantava nos pátios dos colégios, pelo menos uma vez por semana, os hinos consagrados a uma Pátria que se aprendia a amar, em que o padre da paróquia do bairro era uma figura respeitada por todos, em que se confiava na polícia, em que se cumpria a palavra dada, tempo em que havia respeito e em que autoridade não era erradamente vista como autoritarismo. Tempo, enfim, em que a vida em sociedade era guiada por valores morais legados por Deus e cultivados, mesmo com todos os defeitos humanos, por nossos antepassados.
Tudo isso acabou e – o que é pior – quem ainda ousa defender esses valores e transmiti-los à criançada e à juventude é imediatamente ridicularizado, xingado de “conservador”, “careta” ou adjetivos semelhantes, sob o incentivo dos próprios pais – quando estes existem e estão por perto – e sob o patrocínio da mídia esquerdista e sua linguagem envenenada, seu “dialeto do social”...
Os relativistas morais foram chegando e, pouco a pouco, se apossando de todos os espaços. Para eles, Deus e toda a tradição judaico-cristã não passam de correntes que aprisionam os super-homens modernos à escravidão de não poder fazer o que bem entendem, impedindo-os de massacrar, desrespeitar, ofender, xingar, assaltar, roubar, estuprar, corromper, “cheirar”, dar vazão a todo e qualquer instinto, sujo ou limpo. A, resumindo, forjar, cada um, a sua própria “moral”.
Egoísmo passou a ser “auto-estima”; devassidão, a “sexualidade”; homossexualismo, a “opção sexual”; preguiça de trabalhar, a “exclusão”; pudor, a “caretice”, castidade, a “repressão”; matrimônio, a “prisão”, parcimônia, a “sovinice”, autoridade, a “autoritarismo”, conceitos tradicionais, a “preconceitos”...
O mundo de hoje exclui dos horizontes individuais, por imposição e sob permanente vigilância das patrulhas “politicamente corretas”, tudo o que seja realmente grande e sublime, tudo o que ultrapassa a vida mundana, instando a cada um a absorver-se e a concentrar-se em uma vontade voltada exclusivamente para resolver os problemas cotidianos de cada um, uma vontade “gerencial” das tarefas do dia a dia. É o império da razão raciocinante, que aprisiona a todos, deixando apenas, já que a simples vontade não resolve todos os problemas, o rastro dos afetos, dos agrados, desagrados e sentimentos, porém de uma forma isolada, esparsa. É uma afetividade absolutamente desintegrada com o entendimento e com a vontade, voltada para si mesma e totalmente incapaz de voltar-se para o bem alheio, uma afetividade descontente, ferida e traumatizada – “carente” - que enche os consultórios dos psiquiatras e psicanalistas. Um grande número dos problemas afetivos, dos desvios emocionais, das inseguranças sociais e profissionais e das neuroses tem essa origem metafísica, conforme reconheceu o próprio Adler.
Aquela famosa série “Sex and the City”, campeã de audiência, mostra as cambalhotas morais de belas mulheres na faixa dos trinta, todas firmemente apoiadas no vazio. O não menos concorrido “Big Brother” mostra grupos de oportunistas querendo aparecer a qualquer custo, para os quais moral é coisa de um remoto passado. O “Diário de Bridget Jones”, outro exemplo, retrata uma jovem que resolve os seus fracassos com uma piada, antes de meter-se em novo fracasso: “O envolvimento com Mark, depois da bebedeira de ambos, não deu em nada. Mark é bobo e prepotente, e, ainda por cima, disse que eu sou “engraçadinha”.. Arrggh!, a maldita balança acusa-me de engordar mais um quilo! Fumei 46 cigarros. Dei cabo de todos os marshmallows que encontrei na geladeira. Preciso do consolo de Herbert”... Um último exemplo, proporcionado pelo sociólogo Emir Sader em artigo no Jornal do Brasil de 20/06/04: “E a globalização liberal requer os “paraísos fiscais”, como a família tradicional requeria [grifo meu] os prostíbulos, como compensação equilibradora dos casamentos indissolúveis” [idem] ... Família “tradicional”? Serão os indivíduos, por acaso, filhos de jacarés com cobras d’água? Ou de “simpatizantes” com “drag queens”, ou de casais formados por “sapatões e conguinhas”?
O relativismo moral contaminou toda a sociedade, suas instituições, seus sistemas político, econômico, cultural e jurídico, todo o organismo, enfim! Nele podemos encontrar a causa de toda a violência nas grandes cidades, que tem obrigado as pessoas de bem a, quando dentro de suas casas, encerrarem-se, como pássaros, em jaulas e, quando nas ruas, a assustarem-se na presença de qualquer estranho ou ao ouvir qualquer estampido, até mesmo os daquelas bombinhas com que as crianças brincavam nas festas juninas.
Esses criminosos – vasta categoria, que inclui assaltantes, traficantes, estupradores, seqüestradores e tutti quanti, mas que engloba também maus policiais, governadores (as), prefeitos (as), secretários, políticos, juízes, ministros e presidentes - que têm feito do Rio de Janeiro e das demais grandes cidades brasileiras um cenário de verdadeira guerra civil têm mães? Têm pais, avós ou avôs? Em caso afirmativo, eles estiveram ou estão presentes em suas vidas? Têm religião ou, pelo menos, alguém ensinou a eles princípios morais sólidos? Tiveram, também, professores que, ao invés de lhes ensinar “cidadania”, passaram-lhes uma visão clara do que é certo e do que é errado no convívio social? Quando ligam a televisão, ou escutam o rádio, ou lêem jornais e revistas, encontram algo que preste? Pensam nos outros? Sabem o que é solidariedade e fraternidade? Têm noção de que existe algo transcendental, para além desta vida? De que pobreza e honestidade nunca foram atributos mutuamente excludentes? De que os anos que todos passam neste mundo tendem a zero, diante da eternidade?
Amigos, eis a causa de tudo: imoralidade! Ausência de princípios. Afastamento da humanidade de sua transcendência. Concluam como quiserem. De minha parte, confesso que, embora sempre fortalecido para a luta, já estou com o saco da minha esperança cheio de observar tanta insegurança!
Doutor em Economia (EPGE/FGV), Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (Cieep) e Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Autor de "Economia e Liberdade - A Escola Austríaca e a Economia Brasileira". www.ubirataniorio.org
por Ubiratan Jorge Iorio em 22 de junho de 2004
Resumo: O relativismo moral contaminou toda a sociedade, suas instituições, seus sistemas político, econômico, cultural e jurídico, todo o organismo, enfim.
Houve tempo em que as crianças e jovens ouviam os conselhos dos mais velhos com respeito, em que as famílias, bem constituídas, eram o centro da vida de cada um, em que casais eram formados por um homem e uma mulher, em que os programas e as revistas em quadrinhos infantis, mostrando claramente as diferenças entre o bem e o mal, procuravam demonstrar que o segundo não pode prevalecer sobre o primeiro, em que alunos que não estudavam eram reprovados nas escolas, em que estas ensinavam basicamente Português, Aritmética, Geografia, História e Ciências, em que se cantava nos pátios dos colégios, pelo menos uma vez por semana, os hinos consagrados a uma Pátria que se aprendia a amar, em que o padre da paróquia do bairro era uma figura respeitada por todos, em que se confiava na polícia, em que se cumpria a palavra dada, tempo em que havia respeito e em que autoridade não era erradamente vista como autoritarismo. Tempo, enfim, em que a vida em sociedade era guiada por valores morais legados por Deus e cultivados, mesmo com todos os defeitos humanos, por nossos antepassados.
Tudo isso acabou e – o que é pior – quem ainda ousa defender esses valores e transmiti-los à criançada e à juventude é imediatamente ridicularizado, xingado de “conservador”, “careta” ou adjetivos semelhantes, sob o incentivo dos próprios pais – quando estes existem e estão por perto – e sob o patrocínio da mídia esquerdista e sua linguagem envenenada, seu “dialeto do social”...
Os relativistas morais foram chegando e, pouco a pouco, se apossando de todos os espaços. Para eles, Deus e toda a tradição judaico-cristã não passam de correntes que aprisionam os super-homens modernos à escravidão de não poder fazer o que bem entendem, impedindo-os de massacrar, desrespeitar, ofender, xingar, assaltar, roubar, estuprar, corromper, “cheirar”, dar vazão a todo e qualquer instinto, sujo ou limpo. A, resumindo, forjar, cada um, a sua própria “moral”.
Egoísmo passou a ser “auto-estima”; devassidão, a “sexualidade”; homossexualismo, a “opção sexual”; preguiça de trabalhar, a “exclusão”; pudor, a “caretice”, castidade, a “repressão”; matrimônio, a “prisão”, parcimônia, a “sovinice”, autoridade, a “autoritarismo”, conceitos tradicionais, a “preconceitos”...
O mundo de hoje exclui dos horizontes individuais, por imposição e sob permanente vigilância das patrulhas “politicamente corretas”, tudo o que seja realmente grande e sublime, tudo o que ultrapassa a vida mundana, instando a cada um a absorver-se e a concentrar-se em uma vontade voltada exclusivamente para resolver os problemas cotidianos de cada um, uma vontade “gerencial” das tarefas do dia a dia. É o império da razão raciocinante, que aprisiona a todos, deixando apenas, já que a simples vontade não resolve todos os problemas, o rastro dos afetos, dos agrados, desagrados e sentimentos, porém de uma forma isolada, esparsa. É uma afetividade absolutamente desintegrada com o entendimento e com a vontade, voltada para si mesma e totalmente incapaz de voltar-se para o bem alheio, uma afetividade descontente, ferida e traumatizada – “carente” - que enche os consultórios dos psiquiatras e psicanalistas. Um grande número dos problemas afetivos, dos desvios emocionais, das inseguranças sociais e profissionais e das neuroses tem essa origem metafísica, conforme reconheceu o próprio Adler.
Aquela famosa série “Sex and the City”, campeã de audiência, mostra as cambalhotas morais de belas mulheres na faixa dos trinta, todas firmemente apoiadas no vazio. O não menos concorrido “Big Brother” mostra grupos de oportunistas querendo aparecer a qualquer custo, para os quais moral é coisa de um remoto passado. O “Diário de Bridget Jones”, outro exemplo, retrata uma jovem que resolve os seus fracassos com uma piada, antes de meter-se em novo fracasso: “O envolvimento com Mark, depois da bebedeira de ambos, não deu em nada. Mark é bobo e prepotente, e, ainda por cima, disse que eu sou “engraçadinha”.. Arrggh!, a maldita balança acusa-me de engordar mais um quilo! Fumei 46 cigarros. Dei cabo de todos os marshmallows que encontrei na geladeira. Preciso do consolo de Herbert”... Um último exemplo, proporcionado pelo sociólogo Emir Sader em artigo no Jornal do Brasil de 20/06/04: “E a globalização liberal requer os “paraísos fiscais”, como a família tradicional requeria [grifo meu] os prostíbulos, como compensação equilibradora dos casamentos indissolúveis” [idem] ... Família “tradicional”? Serão os indivíduos, por acaso, filhos de jacarés com cobras d’água? Ou de “simpatizantes” com “drag queens”, ou de casais formados por “sapatões e conguinhas”?
O relativismo moral contaminou toda a sociedade, suas instituições, seus sistemas político, econômico, cultural e jurídico, todo o organismo, enfim! Nele podemos encontrar a causa de toda a violência nas grandes cidades, que tem obrigado as pessoas de bem a, quando dentro de suas casas, encerrarem-se, como pássaros, em jaulas e, quando nas ruas, a assustarem-se na presença de qualquer estranho ou ao ouvir qualquer estampido, até mesmo os daquelas bombinhas com que as crianças brincavam nas festas juninas.
Esses criminosos – vasta categoria, que inclui assaltantes, traficantes, estupradores, seqüestradores e tutti quanti, mas que engloba também maus policiais, governadores (as), prefeitos (as), secretários, políticos, juízes, ministros e presidentes - que têm feito do Rio de Janeiro e das demais grandes cidades brasileiras um cenário de verdadeira guerra civil têm mães? Têm pais, avós ou avôs? Em caso afirmativo, eles estiveram ou estão presentes em suas vidas? Têm religião ou, pelo menos, alguém ensinou a eles princípios morais sólidos? Tiveram, também, professores que, ao invés de lhes ensinar “cidadania”, passaram-lhes uma visão clara do que é certo e do que é errado no convívio social? Quando ligam a televisão, ou escutam o rádio, ou lêem jornais e revistas, encontram algo que preste? Pensam nos outros? Sabem o que é solidariedade e fraternidade? Têm noção de que existe algo transcendental, para além desta vida? De que pobreza e honestidade nunca foram atributos mutuamente excludentes? De que os anos que todos passam neste mundo tendem a zero, diante da eternidade?
Amigos, eis a causa de tudo: imoralidade! Ausência de princípios. Afastamento da humanidade de sua transcendência. Concluam como quiserem. De minha parte, confesso que, embora sempre fortalecido para a luta, já estou com o saco da minha esperança cheio de observar tanta insegurança!
Doutor em Economia (EPGE/FGV), Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (Cieep) e Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Autor de "Economia e Liberdade - A Escola Austríaca e a Economia Brasileira". www.ubirataniorio.org