ENTREVISTA COM UBIRATAN IORIO
Pergunte para o primeiro estudante de Economia que você conhece, se na faculdade ele teve oportunidade de ler algo sobre a Escola Austríaca de Economia, a mais importante escola econômica liberal. Se ele disser que ouviu um professor comentar em uma determinada aula, mas que não saberia dizer nada mais objetivo, não se espante. Quando muito é assim mesmo. Muito menos ouvirá de seu amigo que ele tenha lido, para a aprovação em uma determinada matéria, qualquer coisa de Ludwig von Mises. Certamente deste, nem o nome tenha ouvido falar. É triste, porque Ludwig von Mises é o grande gênio da Escola Austríaca e um dos maoires economistas que o mundo já pode ver.
Abaixo reproduzo entrevista concedida via correio eletrônico pelo Ubiratan Iorio para este blog. Iorio é autor do livro “ECONOMIA E LIBERDADE – A Escola Austríaca e a Economia Brasileira” editado pela Forense Universitária. Nesta obra o autor apresenta com grande competência ao público brasileiro todo o universo da Escola Austríaca de Economia. Infelizmente ainda pouco conhecido pelo meio acadêmico nacional, não obstante, sem embargo, se trata de um dos melhores livros de economia escrito neste país.
Lucas - Como o senhor procurou trabalhar a sistematização do conteúdo da Escola Austríaca de Economia no livro “Economia e Liberdade”?
Iorio - Simplesmente verifiquei que não existia NADA em português que apresentasse a EA de forma sistemática, com princípio, meio e fim. Por isso, embora meu livro não contenha praticamente nada de novo, ele começa com os fundamentos filosóficos da EA, passa em seguida pela sua teoria econômica e encerra com tentativas de aplicações à realidade brasileira.
Lucas - Porque a importância em apresentar a contribuição da Escola Austríaca ao público brasileiro?
Iorio - O Brasil é um país muito pobre em termos científicos. Nos cursos de economia, ensina-se quase que exclusivamente – com algumas honrosas exceções – Keynes, Kalecki e Marx. O ambiente acadêmico é contaminado por essas idéias e o livro surgiu para tentar, embora modestamente, fazer frente a isso. Algo como uma luz bem pequena no meio da noite.
Lucas - A Escola Austríaca de Economia é praticamente desconhecida no meio acadêmico brasileiro, fato que predomina a influência de correntes teórica ligadas ao marxismo e ao keynesianismo. Frente essa realidade, qual é o papel, sobretudo para os estudantes brasileiros, da contribuição “austríaca” para a ciência econômica?
Iorio - No meu modo de ver as coisas, os estudantes devem ser apresentados a TODAS as teorias e escolas de pensamento, para que, mais tarde, já mais maduros, possam seguir o seu caminho. Por isso, penso ser um crime um estudante não ser apresentado, por exemplo, às idéias de Marx (por piores que possam ser), mas é também criminosa a atitude de lhe negar ter acesso aos ensinamentos dos grandes economistas austríacos que, quando muito, são resumidos em uma ou duas aulas nos cursos de pensamento econômico, na rubrica “os marginalistas”. Isto é um absurdo, apresentam a EA como se fosse coisa do passado. Mas ela pode contribuir tanto ou mais para a compreensão do mundo do que as teorias ditas “modernas”.
Lucas - Quando o senhor teve contato com a escola austríaca certamente o senhor detectou um importante diferencial teórico que o convenceu da superioridade desta escola perante as demais. Qual seria este referencial e por que a importância deste para o estudo da econômica?
Iorio - Há alguns diferenciais importantes. O primeiro é que a EA é apriorística; o segundo, que é subjetivista; o terceiro, que rejeita a utilização da matemática em uma ciência social como a economia e o quarto é que estuda a economia dentro da praxeologia, isto é, integrando-a com outros campos do conhecimento. Como observou Hayek, “o economista que só sabe economia não pode ser um bom economista”.
Lucas - Qual o ponto basilar que diferencia a teoria “austríaca” de economia de correntes como a marxista e keynesiana?
Iorio - A meu ver, é o fato de que a EA considera a economia como AÇÃO HUMANA AO LONGO DO TEMPO SOB CONDIÇÕES DE INCERTEZA GENUÍNA.
Lucas - Diante da importante contribuição desta escola para a ciência econômica e visto que em nosso país a comunidade dita científica praticamente desconhece os trabalhos como, por exemplo, de Ludwig von Mises, Murray N. Rothbard e até mesmo Friederich A. von Hayek, quais são as dificuldades preeminentes em introduzir na estrutura curricular dos cursos de Economia do Brasil o pensamento “austríaco”?
Iorio - As dificuldades são muito grandes, proporcionais à resistência. Mas a saída que encontrei foi tratar de assuntos da “mainstream” usando, complementarmente, a metodologia austríaca ou, como ocorre na UERJ, ministrá-la em cursos eletivos, sempre com uma grande procura por parte dos alunos, porque a EA é simples, fácil de entender e de aplicar ao mundo real. Como disse Mises, “good economics is basic economics”.
Lucas - Como o Sr. percebeu (e está percebendo) a recepção do livro “Economia e Liberdade – A Escola Austríaca e a Economia Brasileira” pela comunidade acadêmica?
Iorio - Minha grande alegria foi a de verificar que o livro foi muito aceito entre alunos de economia e profissionais de outras áreas. Entre professores – a não ser entre os poucos liberais que existem no Brasil – a aceitação, como eu já esperava, foi fraca: uns rejeitam a EA porque não usa matemática e outros simplesmente porque é diretamente relacionada ao que chamam de “neoliberalismo”...
Lucas - Qual sua sugestão para os estudantes de Economia neste início de século XXI que estão sufocados com um viés teórico e sobretudo ideológico, anti-liberal e estatista? Para que pontos o senhor chamaria a atenção na formação dos estudantes de economia?
Iorio - Os estudantes devem ler de tudo um pouco, para depois seguirem o seu próprio caminho, o que demanda tempo. É verdade que nos cursos de economia eles são treinados para serem intervencionistas, mas basta que um dia leiam um livro de Mises ou de Hayek para percebereM que o mundo real é bem diferente daquilo que tentam lhes enfiar, por questões de pura ideologia, na cabeça.
Lucas - Por fim, poderia falar sobre a grande lição que o economista francês Fréderic Bastiat (1800-1851) deixou a comunidade de economistas (lição que a escola austríaca de economia absorveu perfeitamente) e em particular, porque essa lição é importante para os economistas brasileiros? (sobre os efeitos que se ve...)
Iorio - Trata-se das diferenças entre os efeitos de curto prazo (que se vêem) e os de longo prazo (que muitas vezes não podem ser vistos imediatamente, mas que podem ser previstos pelos bons economistas). Creio que o precursor, dentro da “mainstream”, dessa importante diferença entre os efeitos de curto e de longo prazo foi Richard Cantillon e, nos dias atuais, Milton Friedman. A EA, desde Menger, percebeu isso, assim como percebeu, antes de qualquer outra, a importância de se estudar expectativas em economia.
Ubiratan Jorge Iorio é Doutor em Economia e atualmente é Diretor da Faculdade de Economia da UERJ.
Para saber mais www.ubirataniorio.org
20 de set. de 2003
16 de set. de 2003
Ressuscitei!!
É assustador como os professores universitários abordam a grande crise de 29. São enfáticos em afirmar que foi "a crise do capitalismo".
Não sabem o papel que desempenhou o Estado nos EUA, mais especificamente, o FED, que no decorrer da década de 20 emitiu gradativamente cada vez maiores quantidade de moeda na economia proporcionando o boom econômico que, como previsto por Mises, no médio, longo prazo, quando o Estado incha a economia de moeda papel, invariavelmente ela culminará em crise e recessão. É de chorar na sala de aula. O desconhecimento (e a omissão) dos fatos históricos-econômicos dos economistas é um horror!
A meu ver, até Milton Friedam erra em diagnosticar a causa da recessão. Em seu "Capitalismo e liberadade" diz ele que o erro foi o FED nos anos de 1930 em diante, reduzir a oferta monetária, esta a causadora da crise e da recessão. Para mim, não resta dúvidas da superioridade das razões apresentadas pelos economistas da Escola Austríaca. Foi o excesso de moeda artificial que o FED lançou da década de 20.
Ver Murray Rothbard em "America's Great Depression". Creio ser o melhor livro já escrito sobre o assunto.