27 de fev. de 2008

Índice de Liberdade Econômica 2008

Está disponível o Índice de Liberdade Econômica 2008, realizado anualmente pela The Heritage Foundation e The Wall Street Journal. A tabela, novamente, é no mínimo reveladora. O Brasil ocupa a lamentável 101ª posição entre os 157 países avaliados este ano. Das cinco categorias, ocupamos a nada lisonjeira quarta (país com pouca liberdade econômica).

Que isto ao menos sirva para mostrar que o tal liberalismo ainda não faz parte da realidade brasileira, mas somente da ostensiva retória da classe letrada nacional que jura de pé junto que o liberalismo é a causa dos grandes males sociais do país.

Notável, uma vez mais, que os países que apresentam maior liberdade econômica oferecem os melhores padrões de vida à sua população (EUA, Irlanda, Suécia, Alemanha, Taiwan) enquanto os países que vivem sob a opressão estatal (Corea do Norte, Cuba, Venezuela, Camboja, Vietnan), faz da ausência de liberdade um cruel fardo para a imensa maiora do seu povo.

O ranking do índice 2008 pode ser visualizado aqui.

15 de fev. de 2008

Entrevista com Adrián Ravier

Abaixo, publico entrevista com Adrián Osvaldo Ravier sobre o II Congresso Internacional “A Escola Austríaca no Século XXI”, a realizar-se dias 7, 8 e 9 de agosto de 2008, em Rosário, Argentina. Adrian é formado em Economia, e atualmente faz doutorado em economia pela Universidade Rey Juan Carlos de Madri, orientado por Jesus Huerta de Soto. É pesquisador membro da Fundación Hayek de Buenos Aires e um dos organizadores do II Congresso Internacional. Também mantém um blog pessoal http://www.adrianravier.blogspot.com/ e desde Buenos Aires nos concedeu esta entrevista por e-mail.

LM - A Escola Austríaca é ensinada no meio acadêmico argentino?

AR - Desde os anos setenta, certamente em razão do Premio Nobel de 1974 á Friedrich A. Hayek, tem ocorrido um considerável ressurgimento do interesse pela Escola Austríaca. Esta escola do pensamento se originou no século XIX nos trabalhos de Carl Menger e seu jovens clegas Eugen von Böhm-Bawerk e Friedrich Wieser. Durante o século XX esta escola chegou gradualmente a ser identificada principalmente com as idéias de Ludwig von Mises e Friedrich A. von Hayek.

E, com efeito, são as idéias de Mises e Hayek que gerou o renovado interesse pela tradição austríaca no século XX. Este renovado trabalho austríaco tem tomado lugar principalmente nos Estados Unidos, mas um significativo interesse nestas idéias tem se manifestado também em diversos países no mundo todo, inclusive países latino-americanos.

Lamentavelmente, às margens deste ressurgimento, as universidades argentinas pouco tem incluído as idéias austríacas em suas ementas curriculares. Nos cursos de graduação em Economia, por exemplo, a tradição austríaca aparece apenas no âmbito da “História do Pensamento Econômico” ou da “Economia Monetária”, justamente pelas contribuições de Hayek que lhe conferiram o referido Prêmio Nobel.

LM - Como surgiu a idéia do Congresso Internacional da Escola Austríaca?

AR - O Congresso Internacional “A Escola Austríaca no Século XXI” surgiu como uma iniciativa da Fundação Bases (Rosario) e da Fundação Hayek (Buenos Aires), exatamente para tentar mostrar aos jovens estudantes “a outra metade da biblioteca”, esta que mencionamos e que hoje praticamente não faz parte dos programas de estudos nas escolas de economia.
O êxito que experimentamos com o I Congresso em 2006 nos têm dado estímulo a dar uma peridiocidade a cada dois anos ao evento.

LM - Quais foram os resultado do I Congresso?

AR - Felizmente, os resultados não poderiam ter sido melhores. A lista de destacados conferencistas convidados, entre eles Richard Ebeling da Foundation for Economic Education, agregou um amplo grupo de expositores nacionais e internacionais – de fato, uma terceira parte do Programa de Exposições esteve formada por participantes do exterior – que abordaram de forma orginal e interesante a variada temática de desenvolvimentos teóricos que caracteriza a Escola Austríaca. Desta forma, os papers expostos refletiram interesses que vão desde a economia e a filosofia política, a teoria do conhecimento e a filosofia da mente, até a metodología das ciências sociais.

Cumpre destacar que nunca havia se realizado em nosso país um evento deste tipo. Nos referimos a um congresso tipicamente acadêmico, no contexto da universidade pública, de três dias de duração e com recepção de comunicações de alunos e profesores que foram avaliadas por um comite examinador.

Além disso, devemos mecionar que as mais de trinta comunicações – constituidas por expositores e conferencistas convidados – se agregaram a mais de setenta pessoas compostas em sua maioria de estudantes e professores universitários que participaram como ouvintes do evento. Também devemos destacar que, entre os ouvintes, houve uma razoável percentagem de pessoas do exterior (Colômbia, Paraguai e Estados Unidos).

Por outro lado, importantes instituições de nosso país e do resto do mundo nos honraram com sua confianza, apoiando moralmente o Congresso e difundindo-o entre seus membros e associados. Igualmente, a Embaixada da Áustria na República argentina enviou a adesão da própria embaixadora, Sra. Gudrun Graf, que foi lida durante o ato de abertura das atividades.
Finalmente, e em outra mostra de seriedade com a que foi encarada a organização do congresso, o Hayek Fund que depende do Institute of Humane Studies (George Mason University) patrocinou os três palestrantes estrangeiros e mesmo fez a Atlas Fundation.

LM - À quem se dirige o Congresso?

AR - Ele é voltado à estudantes, professores e graduados nas áreas de Economia, Humanidades e Ciências Sociais em geral. Cabe lembrar que o enfoque “austríaco” é multidisciplinar, já que para comprender os fatos enormente complexos que caracterizam o mundo em que vivemos, se faz imperioso estudá-los desde distintos âmbitos das ciencias sociais como a economia, o direito, a ciência política, a história, a ética, para mencionar apenas alguns.

Também há que destacar que o I Cogresso Internacional que organizamos em 2006 chamou a atenção de grande quantidade de estudantes de psicologia que assistiram o evento, em geral estimulados pela obra de Hayek The Sensorial Order.

LM - Quais são os objetivos do Congresso?

AR - O objetivo é reunir periodicamente e no meio acadêmico as pessoas interessadas em aprender ou desenvolver as idéias da liberdade em especial as da Escola Austríaca, contribuindo para o intercâmbio de idéias.

LM - Enfim, Adrian, deixo você livre para sua mensagem final aos nossos leitores.

AR - O Objetivo deste congresso é continuar promovendo a interelação entre acadêmicos e estudantes, dedicados ao estudo das idéias da Escola Austríaca e provenientes de distintos países e disciplinas.

A presença de Jörg Guido Hülsman (França), Calvin Hayes (Canadá), Julio Cesar de León Barbero (Guatemala), Gabriel Zanotti (Argentina) e Ricardo Rojas (Argentina), como conferencistas convidados e confirmados, nos deixa convictos que o objetivo será amplamente alcançado.

Desde já, agradecemos esta possibilidade em que nos brinda para divulgar o II Congresso Internacional no Brasil e naqueles lugares onde este tipo de evento não se verifica no cotidiano.
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Para maiores informações sobre o II Congresso Internacional "A Escola Austríaca no Século XXI", clique aqui.

9 de fev. de 2008

Uma nota sobre utilidade e bem-estar social

Na economia de livre mercado, a ação de cada indivíduo se constitui sempre na intenção de sair de um estado menos satisfatório para outro estado mais satisfatório de acordo com os gostos e preferências do indivíduo em questão. No livre mercado, portanto, todas as relações de trocas são feitas sob a expectativa de ganhos mútuos. Isso traz implicações sérias para os promotores de políticas públicas e, last but not least, para os defensores de um mundo melhor.

É importante analisarmos a questão levando em conta
a intervenção governamental sobre as relações voluntárias no mercado. Intervenção se constitui a coerção violenta, não requerida, sobre o outro ou a sociedade. Ou seja, é precisamente o inverso da relação voluntária. Rothbard costumava definir três categorias de intervenção. Em primeiro lugar, o interventor – ou o agressor - submete o outro a sua inteira jurisdição, sem dar-lhe nada em troca. É o que Rothbard denominou intervenção autística. Exemplos dela é o caso de homicídio ou a proibição do outro em se expressar ou de adotar alguma observação religiosa. Em segundo lugar, o interventor pode forçar o outro a dar-lhe algo sem o seu consentimento. Exemplos disso seria a taxação, o circunscrição militar e a escravidão. É irrelevante se “em troca” o agressor restitui o outro com alguma outra coisa, como no caso do escravo que recebe alimento e moradia do seu mestre ou o cidadão que recebe estradas ou segurança do Estado. Este é o caso da intervenção binária, uma vez que a relação hegemônica é estabelecida entre duas pessoas ou grupos: o interventor e o súdito (ou governado). A terceira categoria é a que o interventor obriga ou proíbe terceiros a realizarem alguma relação de troca. Neste caso temos a intervenção triangular, onde a relação hegemônica é estabelecida entre o interventor e as partes (partes são sempre duas pessoas ou grupos). Conforme Rothbard:
Todas essas intervenções são exemplos de relação hegemônica – a relação de comando e obediência – em contraste com a relação voluntária e contratual de benefícios mútuos que constitui as relações no livre mercado.[1]
Isto nos traz as cruciais implicações. Primeiramente, temos que no livre mercado, onde não há intervenção do governo, os indivíduos agem de modo que acreditam que maximizarão sua utilidade. Notável que, como Rothbard chama a atenção, se pudermos usar o termo “sociedade” para descrever o arranjo ou a estrutura de todas as relações individuais, então podemos dizer que o livre mercado maximiza a utilidade social, uma vez que todos ganham em utilidade a partir de suas ações livres. Em razão disso segue que no livre mercado não pode haver exploração.

Em segundo lugar, não é o que ocorre quando inserimos neste quadro a intervenção coercitiva, seja ela qual for. Intervenção significa que o indivíduo coagido fará uma ação na qual não faria voluntariamente se não houvesse a coerção. Por definição, o coagido jamais age voluntariamente. O homem coagido iniciará uma ação, ou uma relação de troca, que não escolheria voluntariamente fazer. Só age assim porque está sob coerção violenta ou sob ameaça de coerção. Em suma, o homem coagido sempre perde em utilidade como resultado da intervenção.

No livre mercado ambas as partes de qualquer relação esperam ganhar, caso contrário simplesmente não haveria a relação. No caso da intervenção, uma parte sempre ganha as expensas da outra. No caso especial da intervenção triangular, temos a possibilidade de ambas as partes coagidas sentirem suas utilidades reduzidas devido à violência coercitiva, mas mesmo assim tem a parte que sai ganhando: os agentes do Estado.

Finalizo com o nosso autor: “uma vez que toda ação do Estado se fundamenta na intervenção binária da taxação, segue que nenhuma ação do Estado pode aumentar a utilidade social, i.e., nenhuma ação estatal pode aumentar a utilidade de todos os indivíduos envolvidos”.

[1] Man, Economy and State, 1962, capítulo XII.

7 de fev. de 2008

II Congresso Internacional da Escola Austríaca

Foi lançando o II Congresso Internacional “A Escola Austríaca no Século XXI”. O evento acontecerá nos dias 7, 8 e 9 de agosto no município de Rosário, Argentina.

A iniciativa é da Fundación Hayek e Fundación Bases, ambas de Buenos Aires e conta com o apoio de diversos think tanks liberais, conservadores e libertários internacionais.


Alguns dos conferencistas confirmados são Jörg Guido Hülsmann (Université d'Angers – Francia), Ricardo Manuel Rojas (Fundación Hayek - Argentina), Gabriel J. Zanotti (Fundación Hayek - Argentina) e Julio Cesar de Leon Barbero (Universidad Francisco Marroquín - Guatemala).

O evento terá cinco áreas temáticas:

• Economia
• Filosofia Política
• Teoria do Conhecimento
• Metodologia
• Comunicações sobre a Escola Austríaca de Economia
O evento é dirigido à estudantes, professores, pesquisadores e interessados em economia, filosofia política, ciências sociais e humanidades em geral.
Enfim, prepare seu paper (ou mesmo sem) e vamos lá!

Mais informações aqui.

Nota: Falei que o Congresso conta com o apoio de diversos think tanks internacionais e não pude deixar de notar que, curiosamente, dos raros que existem, nenhum brasileiro. A pergunta que fica é: por quê o Brasil está tão por fora assim? Que se passa?

6 de fev. de 2008

Grande Notícia: Livro do Hoppe em português

Foi traduzido para o português por Klauber Cristofen Pires do blog Libertatum e está disponível em versão on-line o livro Uma Teoria sobre o Socialismo e o Capitalismo do filósofo austro-libertário Hans-Hermann Hoppe.

O livro foi originalmente publicado em 1989 e versa, entre outros tópicos, sobre a impossibilidade econômica e a injustificativa moral do socialismo, ao passo que mostra com implacável rigor lógico e com sua clareza típica a justificativa moral do capitalismo. Além disso, temos as célebres demonstrações do mito sobre a teoria dos bens públicos, ainda hoje um baluarte levantado pelos liberais ortodoxos e mesmo por esquerdistas para condenarem o laissez-faire mais extremo. Outro destaque do livro é o capítulo sobre a irrelevância econômica do monopólio (entendido como um único ofertante de determinado produto ou serviço) no livre mercado. Ainda consta a fantástica demonstração da justificativa ética da propriedade privada desde o princípio da argumentação. Enfim, o livro é bárbaro e contundente no bom estilo da genialidade hoppeniana.

Sem sombra de dúvidas, está aí uma obra indispensável para todo estudante ou interessado em economia, ciências sociais e filosofia política que se preze.

Parabéns Klauber!

Para baixar o livro em seu computador clique aqui.

5 de fev. de 2008

Blog do Gabriel Zanotti

Está no ar o blog do filósofo argentino Gabriel Zanotti, Filosofía para Mí. O professor Gabriel é um notável estudioso cujos trabalhos vão desde a filosofia tomista, passando pela teoria econômica austríaca até a fenomenologia contemporânea.

Com 14 anos de idade, intrigado com a pobreza duma comunidade rural argentina onde passeava com seu pai, Gabriel queria entender porque aquilo ocorria. Seu pai, um notável educador, foi incapaz de saciar as dúvidas econômicas do pequeno filósofo e pediu para que ele conversasse com um amigo economista que acabou por lhe dar o livreto de Murray Rothbard "O Essencial von Mises". Foi assim, na tenra adolescência, que Gabriel se apaixonou pela economia de modo geral e pela escola austríaca de maneira particular. Imerso nos estudos, com 18 anos de idade escreveu uma notável introdução a Escola Austríaca de Economia (leia aqui).

Mas nestas alturas, o jovem Gabriel já havia rompido as fronteiras da teoria econômica e há alguns anos estudava filosofia também como autodidata. Antes de entrar na faculdade, com 18 anos, já tinha lido Santo Tomás de Aquino, donde permanece sendo até hoje sua grande fonte de inspiração. Católico, o ainda jovem Gabriel, então com 24 anos, escreveu um livro com um conteúdo possivelmente inédito em que versava sobre a relação entre a economia de livre mercado e a doutrina social da Igreja. Posteriormente, suas teses de mestrado e doutorado em filosofia abordaram os assuntos da epistemologia e da praxeologia, na melhor tradição misesiana.

No Brasil, temos seu livro "Epistemologia da Economia" publicado pela editora da PUC-RS. Recentemente foi publicado na Espanha uma nova edição do livro "Teoria e História" do Mises, que traz uma saborosa e consistente introdução de Gabriel Zanotti.

Isso não é tudo, evidentemente. É apenas uma singela fotografia da tragetória desse grande amigo e mestre. Seu blog, professor, vem para ajudar a lançar luzes na escuridão da nossa ignorância.

Muito obrigado.

Não deixe de ver os ensaios e livros de Gabriel Zanotti aqui.