Criar riqueza ou distribuir a renda?
por Paulo Leite, de Washington, DC
Uma daquelas “verdades” que ninguém no Brasil se atreve a negar é que “algo precisa ser feito” para melhorar a distribuição de renda no país. Evidentemente, essa afirmação subentende a intervenção estatal para assegurar que as camadas inferiores da sociedade deixem de ser “exploradas” pelos que se encontram mais acima.
Essa idéia tão difundida revela uma clara falta de entendimento sobre a forma como a riqueza é gerada e distribuida numa sociedade. E que ninguém pense que essa falta de entendimento é fenômeno exclusivamente brasileiro. Há tempos que os defensores da economia de mercado, em todas as partes do mundo, buscam formas de combater essa visão equivocada.
Poucos conseguem fazer isso de forma tão clara quanto Walter E. Williams, professor de economia da Universidade George Mason, em Virgínia, a alguns quilômetros aqui da capital americana. O professor diz que, se formos dar ouvido à sabedoria convencional, vamos pensar que existe uma pilha de dinheiro em algum lugar, e um “distribuidor de dinheiro” que reparte as cédulas entre a população.
“Assim”, diz o professor, “muitos pensam que a razão porque alguns têm mais do que os outros é que o distribuidor de dinheiro é um racista e sexista que distribui o dinheiro de forma injusta. Outros, garantem que alguns são mais ricos porque chegaram primeiro à pilha de dinheiro e pegaram uma quantidade ‘injusta’, deixando muito pouco para os outros”.
Nos dois casos, garante o professor Williams, a conclusão é clara: “para fazer justiça, é preciso que o governo tire os ganhos escusos de uns poucos e devolva aos que ficaram com pouco dinheiro, ou seja, que o governo redistribua a renda”.
Ao contrário do que fazem crer essas visões caricaturais da realidade, porém, Walter E. Williams explica que numa sociedade livre “a única forma de obter renda é agradar e servir ao seu semelhante. Eu corto sua grama, conserto seu telhado ou ensino economia a seu filho. Você, por seu lado, me dá dinheiro. Podemos pensar no dinheiro como certificados de desempenho”.
“Obviamente”, observa o professor, “algumas pessoas sabem servir e agradar aos seus semelhantes melhor do que outras. Por isso, recebem um número maior de certificados de desempenho (quer dizer, uma renda mais alta).”
Walter Williams cita como exemplo o tenor Luciano Pavarotti. “Por que a renda de Pavarotti é maior do que a minha?”, pergunta o professor. “É por causa de pessoas de bom gosto como você. Você é capaz de pagar $75 dólares para ouvir Pavarotti cantar uma ária de La Boheme. Mas quanto estaria disposto a pagar para me ouvir cantar a mesma música?”
“Aqueles que chamam a renda de Pavarotti de injusta e desejam que o governo tome parte dela para dar a outros estão essencialmente dizendo: ‘eu discordo da decisão de milhões de pessoas que voluntariamente proporcionaram a Pavarotti uma renda alta. Por isso vamos usar o poder de coerção do governo para cancelar essas decisões individuais e redistribuir a renda’.”
“É como se o governo”, continua Williams, dissesse a mim: “Walter, você não precisa servir ao seu semelhante para ter direito a uma parte do que ele produz. Em troca de sua lealdade a nós, vamos tirar o que seu semelhante produz e dar a você”.
Nas palavras do professor Williams, “a redistribuição de renda é simplesmente a versão legal do que um ladrão faz – tirar a propriedade de uma pessoa para benefício de outra. A principal diferença entre os atos do ladrão e do Congresso é a legalidade”.
Palavras fortes, sem dúvida. Mas cheias de razão e bom senso.
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Essas observações de Walter E. Williams foram retiradas da palestra “O Empreendedor Como Herói Americano”, que o professor apresentou recentemente num seminário sobre “Empreendedores e o Espírito da América” realizado no Hillsdale College, do estado americano de Michigan.
A íntegra da palestra, pode ser lida no site da faculdade, www.hillsdale.edu. Não é por nada, não, mas esse texto deveria virar matéria obrigatória em todas as faculdades de economia do Brasil.Publicado em 29/03/2005
por Paulo Leite, de Washington, DC
Uma daquelas “verdades” que ninguém no Brasil se atreve a negar é que “algo precisa ser feito” para melhorar a distribuição de renda no país. Evidentemente, essa afirmação subentende a intervenção estatal para assegurar que as camadas inferiores da sociedade deixem de ser “exploradas” pelos que se encontram mais acima.
Essa idéia tão difundida revela uma clara falta de entendimento sobre a forma como a riqueza é gerada e distribuida numa sociedade. E que ninguém pense que essa falta de entendimento é fenômeno exclusivamente brasileiro. Há tempos que os defensores da economia de mercado, em todas as partes do mundo, buscam formas de combater essa visão equivocada.
Poucos conseguem fazer isso de forma tão clara quanto Walter E. Williams, professor de economia da Universidade George Mason, em Virgínia, a alguns quilômetros aqui da capital americana. O professor diz que, se formos dar ouvido à sabedoria convencional, vamos pensar que existe uma pilha de dinheiro em algum lugar, e um “distribuidor de dinheiro” que reparte as cédulas entre a população.
“Assim”, diz o professor, “muitos pensam que a razão porque alguns têm mais do que os outros é que o distribuidor de dinheiro é um racista e sexista que distribui o dinheiro de forma injusta. Outros, garantem que alguns são mais ricos porque chegaram primeiro à pilha de dinheiro e pegaram uma quantidade ‘injusta’, deixando muito pouco para os outros”.
Nos dois casos, garante o professor Williams, a conclusão é clara: “para fazer justiça, é preciso que o governo tire os ganhos escusos de uns poucos e devolva aos que ficaram com pouco dinheiro, ou seja, que o governo redistribua a renda”.
Ao contrário do que fazem crer essas visões caricaturais da realidade, porém, Walter E. Williams explica que numa sociedade livre “a única forma de obter renda é agradar e servir ao seu semelhante. Eu corto sua grama, conserto seu telhado ou ensino economia a seu filho. Você, por seu lado, me dá dinheiro. Podemos pensar no dinheiro como certificados de desempenho”.
“Obviamente”, observa o professor, “algumas pessoas sabem servir e agradar aos seus semelhantes melhor do que outras. Por isso, recebem um número maior de certificados de desempenho (quer dizer, uma renda mais alta).”
Walter Williams cita como exemplo o tenor Luciano Pavarotti. “Por que a renda de Pavarotti é maior do que a minha?”, pergunta o professor. “É por causa de pessoas de bom gosto como você. Você é capaz de pagar $75 dólares para ouvir Pavarotti cantar uma ária de La Boheme. Mas quanto estaria disposto a pagar para me ouvir cantar a mesma música?”
“Aqueles que chamam a renda de Pavarotti de injusta e desejam que o governo tome parte dela para dar a outros estão essencialmente dizendo: ‘eu discordo da decisão de milhões de pessoas que voluntariamente proporcionaram a Pavarotti uma renda alta. Por isso vamos usar o poder de coerção do governo para cancelar essas decisões individuais e redistribuir a renda’.”
“É como se o governo”, continua Williams, dissesse a mim: “Walter, você não precisa servir ao seu semelhante para ter direito a uma parte do que ele produz. Em troca de sua lealdade a nós, vamos tirar o que seu semelhante produz e dar a você”.
Nas palavras do professor Williams, “a redistribuição de renda é simplesmente a versão legal do que um ladrão faz – tirar a propriedade de uma pessoa para benefício de outra. A principal diferença entre os atos do ladrão e do Congresso é a legalidade”.
Palavras fortes, sem dúvida. Mas cheias de razão e bom senso.
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Essas observações de Walter E. Williams foram retiradas da palestra “O Empreendedor Como Herói Americano”, que o professor apresentou recentemente num seminário sobre “Empreendedores e o Espírito da América” realizado no Hillsdale College, do estado americano de Michigan.
A íntegra da palestra, pode ser lida no site da faculdade, www.hillsdale.edu. Não é por nada, não, mas esse texto deveria virar matéria obrigatória em todas as faculdades de economia do Brasil.Publicado em 29/03/2005