Uma nota da América
Uma aula de ciência política com um colega homeschooler de 15 anos
Desde o dia 30 de julho (ano de 2011) estou em Colonial Heights, estado da Virgínia nos Estados Unidos. Estou passando uma rápida temporada de intercâmbio na casa da professora Margarita Noyes para estudar inglês, dar uns passeios pela região e, claro, visitar e assistir ao vivo alguns True Outspeak na casa do professor Olavo de Carvalho, que mora há uns 30 minutos de carro da casa dos Noyes.
Depois de tudo, não vou entrar no mérito da (falsa) acusação de que uma criança educada em casa se torna anti-social ou esquisita para o convívio. Isso não se aplica aos filhos de Margarita, absolutamente.
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Aqui na Virginia, minhas aulas de inglês, na verdade, consistem no estudo da Declaração da Independência e da Constituição do país. Abaixo, narro como foi nossa aula hoje, na cozinha da casa da família.
A aula começou com o filho mais novo da professora, Toby, de 15 anos, apresentando seu trabalho sobre a Declaração de Independência. Margarita já havia pedido para Toby ler o documento e elaborar um resumo. Num primeiro momento, me chamou a atenção a desenvoltura com que o garoto apresentou o artigo, falando espontanea e ordenadamente sobre o assunto - sem recorrer ao texto.
Após ele apresentar o trabalho, Margarita lançou algumas questões à ele, sendo a primeira a seguinte: Toby, você mencionou que o povo tem o dever de abolir o governo, você pode falar um pouco mais sobre isso? Ao que Toby respondeu:
- A bíblia nos ensina que temos que obedecer o governo, mas existem exceções. Quando o governo não reconhece e não respeita o direto do povo que Deus exige que se tenha, a Bíblia ensina que é dever do povo derrubá-lo e estabelecer um novo governo (sistema) que cumpra a vontade de Deus. (Eu – Lucas - ressalto que “vontade de Deus” no tocante ao papel do governo - conforme descrito na própria Declaração - significa simplesmente o respeito aos direitos inalienáveis do homem: respeito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Ponto.)
Evidente que fiquei muito impressionado após a apresentação do Toby e especialmente pela maneira eloqüente com que respondeu a questão levantada pela professora. Comentei em seguida que, no Brasil, é difícil ver um aluno – mesmo na universidade - discorrer sobre esse assunto de modo tão espontâneo e com as idéias tão ordenadas como fez Toby.
Ante a decadência educacional que os EUA enfrentam graças à influencia da esquerda (aqui nos EUA são denominados liberals) no sistema educacional americano, o homeschooling é visto pelas famílias como a única saída para os EUA darem a volta por cima e retornarem às sólidas bases em que a nação foi fundada no século XVIII.
Apesar domínio dos liberals na educação e na mídia americana, na prática isso influencia e determina algo em torno da metade do povo. Por outro lado, um povo fortemente conservador em seus valores morais, com ímpeto empreendedor e a clara visão dos valores do direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade ainda ressoa com força em outra metade dos americanos, especialmente naqueles que estão fora das grandes metrópoles, segundo me relatou a própria professora Margarita.
Para dar um exemplo. Aqui, quando algum legislador pretende aprovar um projeto de lei que restrinja ou proíba o hosmeschooling – o que acontece com alguma freqüência -, imediatamente milhares de pais de famílias enviam e-mails ou telefonam para seus representantes no congresso, pressionando-os para não aprovar tal projeto. Eles criaram uma associação em nível nacional que, entre outras atividades, acompanha diariamente as tentativas de abolir o homeschooling no país e quando isso acontece, todos os associados são avisados. Diferente do Brasil, quando membros recebem a notícia, imediatamente ligam para seu deputado ou senador, ou enviam-lhes e-mails reivindicando a rejeição do tal projeto. E isso não é feito por meia dúzia de engajados, mas por milhares de pais de família.
É fascinante viver isso e ao mesmo tempo nos enche de tristeza quando lembramos do nosso Brasil, dominado por genuínos criminosos que, ante um povo bovinamente passivo, está sem chance de sair da vala que se encontra. De um lado nosso cenário político é criminoso e imoral e, de outro, não passa de um lamentável jogo de poses sustentados por discursos vazios, hipócritas e até doentios. Com suas inevitáveis consequências.
Site: www.margaritanoyes.com